29 de junho de 2011 0 comentários

#CONTO "Adeus na madrugada"

Era tarde, eu havia acabado de chegar a minha casa e após relaxar na ducha quente tudo que preciso é um café pra me aquecer um pouco, era inverno, daqueles que vem pra tirar o sono, que por sinal é algo que nunca tenho.
Minhas noites não são mais nada do que trabalhar no meu computador, redações e mais redações, notícias e mais notícias... Eu deveria ter ouvido o meu pai, e ter escolhido uma carreira menos desgastante do que o jornalismo, pois isso me deixa cada vez mais exausta. Passar o dia inteiro correndo atrás de ótimas colunas não é lá um simples trabalho, mas é tudo que eu gosto. Por isso mesmo quero me aquecer com um café, que virou meu vício após parar de fumar, e continuar meu artigo sobre "O crescente índice de criminalidade nas cidades".
O apito da cafeteira soou, estava pronto, peguei minha companheira das noites de insônia, a caneca era uma pequena lembrança de Teddy, meu amigo que agora estava no Canada. Conhecemo-nos há quase 15 anos, nos damos tão bem, até o nosso gosto é igual, o presente do natal retrasado estava em destaque na estante do escritório, um cd do Guns n'Roses, aquele que fez parte de toda nossa adolescência, um tempo que tenho saudade.
Parei na janela com minha caneca e as lembranças de um tempo que não volta jamais, me perdi nelas até notar a rua vazia e escura atrás do vidro, era tarde o suficiente para que eu já estivesse começado a escrever e sair dos meus vagos pensamentos.
Fui até o notebook e liguei. Mia a minha cadelinha me pediu colo como sempre, basta eu estar aqui sentada pra ela me exigir carinho. Coloquei-a no colo, e comecei de onde havia parado, algo do tipo “... é como uma bola de neve, parece crescer a cada vez mais e faz com que as pessoas tenham medo de sair de casa...”
Tudo estava pronto, o artigo estava ótimo, apenas precisava ser revisado por questões gramaticais. Abri o e-mail pessoal para enviar ao e-mail do trabalho, quando assustada Mia pulou do meu colo, essa cadelinha sempre meio louca vive correndo por toda a casa, que é tão grande apenas para mim... Eu havia dito que ficaria apenas quatro meses por ela ser próximo do trabalho até que achasse uma menor, mas havia quase um ano que eu estava ali e não tinha maior interesse em sair procurando por uma casa.
O telefone tocou, era tarde, quem me ligaria àquela hora? Ao terceiro toque atendi ligeiro.
- Alô?
- Rosy é o Teddy...
- Teddy que bom ligou, como estão às coisas por ai?
- Rosy esta tudo ótimo, e você esta se cuidando? - Teddy insiste em achar que um antigo caso de asma voltaria, e pegava no meu pé com isso - Espero que sim hein senhorita.
- Tá pai, tudo bem sim, então, resolveu virar um canadense e pedia a chave da cidade ao presidente ou pretende voltar?
- Sim, já ganhei as chaves, só me falta à vontade de ficar. - Rimos juntos - Na verdade é sobre isso que quero falar, comprei a passagem e amanha estou voltando. - Senti uma euforia dentro de mim, que bom meu Teddy em breve estaria de volta, o "meu" me fez tremer e pensar no quanto preciso dele perto de mim. O bastante pra ter uma conversa na qual sempre temi ter com ele, mas que dessa vez, resolvi encarar, pois na última ligação ele me disse sinceramente da falta que sentia de mim, aquela mesma falta que eu sentia dele. - Você pode ir me esperar no aeroporto? Assim podemos conversar um pouco.
- Claro que sim! - Respondi rapidamente - É... Irei sim. Qual o horário da chegada?
- Então, marca 17h30min. Tudo bem para você né? Hum, você sai da redação as 17horas em trinta minutos acha que pode chegar ao aeroporto?
-Sim, caso não haja nenhum congestionamento, o que não é muito raro de se acontecer por aqui.
- Tudo bem, um espera o outro então. Eu te espero por quanto tempo você precisar. - Aquela frase me deixou sem reação por alguns segundos. - Bom... Então tá né, ligação internacional não é lá um valor muito agradável hehe.
- Sim, sim... Então faça uma boa viagem Teddy, te vejo amanha ok? Beijos.
- Tchau querida. Boa noite.

Desliguei o telefone feliz, muito feliz, por ter essa notícia e agora tive certeza que eu não dormiria mesmo essa noite. Ansiosa para encontrá-lo, ansiosa pra dizer tudo que treinei não por duas semanas e sim por 15 anos. Depois de todo esse tempo longe eu tive a certeza que ele é o único que quero ao meu lado, e mais ainda a certeza de que ele sente o mesmo por mim.
Toda essa felicidade crescia dentro de mim, que eu nem havia percebido que Mia latia sem parar, coisa que ela nunca faz a noite, pois é uma cadelinha bastante dorminhoca. Sai pelo corredor a chamando não a encontrava, o som dela parecia distante e sufocado.
Desci as escadas, procurei por toda a sala e fui ate a cozinha, não há achei, mas vi a janela aberta, a janela que dava para uma área de lazer murada e atrás uma rua, fiquei assustada, pois quando chego do trabalho não abro nada além da minha janela do quarto e do escritório, apesar de ser um bairro nobre andava muito perigoso assim como todos outros bairros da cidade. Olhei a janela que tinha cortina branca e balançava com o vento, um ar frio entrou por ela e me fez tremer. Corri para fechar rapidamente, os gritos de Mia haviam parado, onde ela estaria? Pensei.
Passei a trinca da janela e me virei, quando vi... Não, nenhuma assombração, bem pior que isso... Um homem todo de preto que tinha o rosto coberto no qual eu só conseguia ver seus grandes olhos vermelhos, manchados de maldade e fúria, não ele não queria vingança, pois eu nunca o tinha visto na vida, ele era aquele tipo maligno que se sente bem em fazer o mal tomar todo o mundo, era como um demônio posto na Terra pronto a todo tempo para derramar sangue a troco de almas do bem, quando pensei em gritar e correr ele já estava encima de mim, cravando com toda força uma faca, que parecia tão afiada quanto uma navalha nova.
Senti a dor tomar o meu corpo, não era nada relacionado à dor de dente que reclamei tanto aquele verão, queimava o estômago como veneno de cobra no sangue, lembrei-me do artigo que eu tinha acabado de escrever, as recomendações que eu havia dado, todas erradas e em vão. Lembrei-me do Teddy que ficaria a minha espera por todo o fim de tarde até receber a notícia, lembrei do nosso futuro que nunca vai acontecer, e do nosso passado que eu nunca vou me esquecer...
Pois não importa onde estamos, um dia ela vez até nós, a dona da infelicidade, de todos os demônios ladrões de almas, a dona da saudade eterna... A morte é o ser que espreita toda a sua vida e um dia, o dia em que você tem imensa felicidade te leva. Como diz aquela canção do Guns n Roses, uma das nossas favoritas "faz você se render e chorar, diga 'viva e deixe morrer'...
10 de junho de 2011 1 comentários

Relato de um sonho




Já havia passado da hora, eu estava atrasada e apesar de não enxergar, eu sabia que o caminho era difícil e perigoso. Mas encarei as dificuldades e sozinha fiz aquele longo percurso, cheio de subidas e descidas, muita pedra e armadilha da natureza do homem... Eu podia ouvir pessoas ao meu redor, todas eufóricas e preocupadas demais com a sua própria vida, nenhuma delas se dispusera a me ajudar.
Assim que terminei meu trajeto percebi que aquele lugar não era onde eu deveria e queria estar, eu estava no lugar errado e teria que voltar tudo novamente. Ainda sem enxergar, pedi ajuda a alguém que não se negou a me levar até onde eu estava, pela sua presença, senti que fosse um velho homem. Segurando a minha mão, ele me guiou por todo caminho, sussurrando para os meus pés onde pisar.
Quando estávamos próximo de chegar, sentir minha visão voltar e aos poucos aquela neblina branca começava a desaparecer. Senti que poderia continua sozinha, então agradeci ao velho e lhe ofereci dinheiro por sua ajuda, ele agradeceu, pegou da minha mão e disse que não teria problema me levar até lá. Chegando ao destino, tudo ficou perfeitamente nítido, eu conseguia ver tudo claramente, olhei aquele homem no qual tinha me ajudado em um caminho tão complicado, e que até deixou seu caminho para me ajudar, mas na verdade pude perceber que ele não era um velho e sim um homem jovem e belo, de um olhar marcante e provocante. Ele me olhou e sorriu, com um sorriso tão branco quanto às nuvens em um dia de sol, sempre sorridente, perguntou meu nome e se apresentou, eu perplexa e admirada estava completamente hipnotizada pela sua beleza, ele se despediu acenou docemente deu as costas e se foi. 


Muitas vezes fazemos o caminho errado para seguir o certo, nesse caminho quando precisamos de ajuda devemos ser humildes para pedir que alguém nos ajude, normalmente essa ajuda vem de quem menos esperamos e a quem temos uma visão extremamente errada. 

 
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